Walmart pede royalties e fundos desistem

Cálculos mais modestos para o valor da empresa têm sido feitos pelos potenciais compradores, e isso já foi sinalizado à varejista

Na negociação para a venda do Walmart no Brasil, alguns fundos de investimento que avaliaram a operação desistiram do negócio, após discordâncias que poderiam dificultar o plano dos investidores para a rede, segundo apurou o Valor. A hipótese de ter que pagar royalties à varejista após a venda do negócio é uma possibilidade levantada pela rede. A proposta não caiu bem entre alguns fundos, diz uma fonte a par do assunto.

Cálculos mais modestos para o valor da empresa têm sido feitos pelos potenciais compradores, e isso já foi sinalizado à varejista. Em 2016, a terceira maior varejista de alimentos do país faturou R$ 29 bilhões e a última linha do balanço tem oscilado entre lucro e prejuízo desde que chegou ao país, em 1995. O Walmart é assessorado pelo Goldman Sachs.

Carlyle e General Atlantic não estão mais no páreo. Têm interesse no ativo 3G, Acon, Advent e L Catterton, segundo uma segunda fonte que acompanha as tratativas.

O Walmart começou, há pouco menos de seis meses, negociações para vender o controle, ou uma fatia minoritária ou até todo o negócio – essa questão se mantém em aberto, como forma de o Walmart abrir espaço para diferentes opções de saída. É uma maneira também de mostrar disposição para se chegar a um acordo.

O Valor apurou que o Walmart não descarta uma saída mais “light” da empresa do país, a ser feita em duas fases. Num primeiro movimento, a empresa poderia se desfazer de uma parcela majoritária do negócio e com isso, o novo dono, com direito de preferência, exerceria esse direito para ficar com 100% da empresa num curto prazo de tempo. Uma saída em etapas geraria menor percepção negativa ao grupo. Procurado pelo Valor, Walmart não comentou.

Há algumas divergências em relação à forma como o Walmart pensa o negócio no país e os fundos que avaliaram o ativo.

A rede varejista entende que é preciso manter investimentos em seus dois negócios principais, os supermercados e os hipermercados, sem colocar o braço de “atacarejo” (a cadeia é dona do Maxxi Atacado) como prioridade no país. A operação de atacarejo é a que mais cresce no país no Grupo Pão de Açúcar, por meio da rede Assaí, e no Carrefour, dono do Atacadão.

Nas informações que já foram abertas a fundos e gestoras, há um destaque, inclusive, para o projeto de hipermercados da empresa nos próximos anos – um negócio que passa por uma revolução no varejo global. O plano da varejista, apresentado aos interessados, também reforça possíveis ganhos com a integração da operação on-line e das lojas físicas, ainda em fase inicial.

Pelas dados liberados aos investidores, o plano de negócios da rede para os próximos anos considera um investimento (Capex) elevado para a operação de supermercados e hipermercados. Pelo menos dois fundos levantaram divergências em relação a esse aspecto.

Apesar dos problemas enfrentados pela rede na América Latina – com acusações, em 2012, de pagamento de propina no México – avanços nos níveis de “compliance” (conjuntos de diretrizes definidas para evitar desvios legais) na empresa no país é um fator considerado positivo, diz uma fonte a par das tratativas.

Nessas negociações, naturalmente, há diferenças envolvendo avaliações sobre o negócio para os dois lados. Há um entendimento claro, por parte dos investidores, do potencial do negócio. Mas, dentro de uma reestruturação profunda e ampla da operação.

Há alguns fatores decisivos para o avanço das conversas, segundo apurou o Valor.

Além de ser uma aquisição envolvendo alguns bilhões – para se ter uma ideia, o GPA vale em bolsa R$ 20 bilhões e o Carrefour, R$ 30 bilhões-, o negócio de varejo alimentar é uma operação complexa, o que limita número de interessados. Por isso, o fator “gestão” pode ser determinante para o avanço das negociações.

O comprador teria que montar uma nova estrutura de gestão, com revisão de processos e custos, para tentar colocar o negócio nos eixos – algo que não dá para fazer da noite para o dia. Neste caso, a empresa de investimentos 3G tem, além do acesso à capital, sócios com conhecimento profundo do varejo. A 3G tem entre seus acionistas Jorge Paulo Lemann,  um dos sócios controladores da Lojas Americanas e ex-sócio do Walmart na metade dos anos 1990.

Há 23 anos no país, o Walmart avalia sair do Brasil após altos e baixos em seus balanços, nos quais lucros e prejuízos se intercalam, e diversas mudanças no comando. Dezenas de lojas foram fechadas, demissões foram feitas nos últimos anos. Uma reformulação das lojas está em andamento.

Fonte: Valor Econômico.

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